sábado, 27 de dezembro de 2008

Caldo de cana (garapa)

Frei Mariano gostava muito de caldo de cana. E também adorava ver a gente plantando cana, fazendo garapa e tomando garapa. No começo era uma moenda manual onde um girava o moedor, outro empurrava a cana e um terceiro puxava o bagaço.

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No começo era manual e trabalhoso embora divertido. Já no finalzinho, o Frei comprou uma moendona com motor elétrico e instalou lá atrás da lavanderia. Aí a coisa ficou mais fácil porém muito mais perigosa.

Mas antes de chegar nesse ponto, muita coisa tinha que acontecer, desde o plantio da cana, a colheita, raspagem da cana e, só depois, a moeção. Eu nunca me preocupei com os detalhes, mas as canas que o Frei arranjava para plantar eram sempre de muito boa qualidade. Ele conhecia mesmo que tipo deveria plantar e que tipo deveria evitar.

Cortar a cana até que era fácil. Difícil era ter que raspar uma a uma e bem raspadinha. Haviam diversos tipos de facas e vários dos meninos eram escalados na hora do trabalho para raspar cana.

Montão de cana raspada, no início, só o Frei Mariano liderava a moeção. Acho que ele tinha receio de que alguém pudesse se machucar na moenda, o que de fato, não seria muito difícil. Por fim, conforme ele foi pegando confiança em alguns de nós, a garapa acaba saindo sem a presença dele.

Latas e latas de 18 litros ficavam cheias de garapa que, depois iam para a grande geladeira da cozinha até ficarem prontas para ser servidas no almoço, no lanche da tarde e, interessante, nos intervalos dos nossos jogos de futebol.

Frei Mariano, quando notava que nossa seleção estava jogando contra algum outro time bem mais forte, nos intervalo do jogo (ou às vezes antes também), enchia o time adversário de caldo de cana. Aquilo geladinho, descia gostoso, é claro. Aí, em campo, o rendimento dos jogadores do time adversário sempre caía, com a pança cheia de garapa fazendo glub-glub. Enquanto isso, nossa seleção descia o pau de fazer gol.
Frei Mariano delirava!!!

Quando entrei no ensino Colegial no Américo Alves, passei a estudar à noite e sempre voltava para o Lar bem tarde da noite e, muitas vezes, morrendo de fome. Antes de ir dormir, às vezes, dava uma passadinha pela cozinha e tomava o quê? Um ou dois copões de caldo de cana. A noite era tranqüila, tranqüila.

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