
Fazíamos tantas covas ali na região, que tinha época que parecia que uma guerra se aproximava e a gente tinha de cavar trincheiras para se proteger. Havia uns camaradas que eram bons de escavação. Me lembro bem do Tertuliano. Ele era um dos nossos melhores escavadores. Não bastava pegar a ferramenta e sair fazendo buraco. A cova tinha que ser no esquadro, tinha que ser bem alinhada e as paredes em volta tinham que ficar no prumo, sem imperfeições. A maioria de nós simplesmente escavava, mas o Tertuliano praticamente esculpia uma cova, de tão perfeita que ficava. Depois de pronta, Tertuliano ficava todo orgulhoso de ver a "obra de arte" escavada no chão.
...as chuvas daquele tempo pareciam tempestades assustadoras diante da nossa pequenez da época. Num daqueles verões de chuva forte, houve um dia em que me peguei intrigado observando aquele aguaceiro da chuva fazendo uma correnteza enorme e desaparecendo por um buraco numa daquelas covas já cheia de lixo e capim. Quanto mais chovia, mais água corria para o buraco que nunca se enchia e, na minha inocência, achei que aquele tipo de cova poderia ser uma solução para todas a enchentes do mundo. Bastaria sairmos todos os meninos do Frei junto com o Tertuliano, Isaac, Ivan e outros escavadores valentes e poderíamos resolver uma boa parte dos problemas do mundo com nossas covas que podiam infinitamente absorver água da chuva...
Depois dessas covas, evoluímos para os poços. É que plantamos tantas bananeiras e tantas laranjeiras que com o tempo, faltou água para manter tanta plantação sempre verdejante. Foi aí que Frei Mariano resolveu que quem cavava buracos enormes para pôr lixo, certamente também poderia cavar poço para tirar água. E começou-se a escavação de cacimbas ali por perto do ribeirão que passava nos limites da parte que a gente frequentava. Digo no limite, porque além do ribeirão ainda tinha muita terra que compunha nosso universo do Lar. Mas a exploração desses outros limites contarei em outro momento.
Havia uns colegas que também eram bons de cavar poço, um serviço perigoso onde Frei Mariano muito se arriscou mas, graças à vigilância permanente, nunca um acidente tirou o brilho da aventura.
Cavando os poços, depois de alguns metros sempre tinha xisto (ou seria Chisto, sei lá, outra hora pesquiso) e o xisto era muito duro de cavar, embora mais seguro do que a terra mole, molhada e que sempre desbarrancava das beiras.
Poço pronto, todo mundo sujo e ileso, entrava em ação nosso pedreiro de plantão - Frei Pedro. Afinal, poço de categoria tinha que ter um acabamento de alvenaria prá segurar as paredes de terra.
Me lembro ainda que Frei Mariano conseguiu arranjar todo um esquema de bombas e mangueiras para bombear água e aguar o bananeiral. Daí em diante, nunca mais faltou banana na sobremesa.
Por falar em bananeiras houve uma época em que uma galera da pesada do "Segundo" cortou várias bananeiras para fazer uma jangada para descer o rio Paraíba. Mas isso é outra história...
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